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domingo, 3 de agosto de 2008

O Ciúme dois: a motivação

Todas as duas, eu acho uma coisa linda, eu gosto, não, eu amo Juazeiro e adoro Petrolina. Isto seria apenas uma paráfrase do poeta Maciel Melo sobre a relação ciumesca que sempre houve nestas duas belas cidades. Para o nobre leitor, pode soar como um texto rancoroso, cheio de ciúmes, dores de cotovelo. Acredite, tem um pouco disso tudo aqui, mas motivados por deselegâncias e desrespeito.

Vamos aos fatos. Na sexta-feira, primeiro dia de agosto e do início do Aldeia do Velho Chico, evento cultural promovido pelo Serviço Social do Comércio (SESC), várias apresentações musicais apresentaram-se na orla de Petrolina, numa vista maravilhosa para Juazeiro, num palco de uma altura jamais vista, mantendo a distância artista-público ainda mais esquisita. Essas apresentações são custeadas pelo Governo de Pernambuco, através da Secretaria de Turismo do Estado, e como o próprio Lenine, principal atração do dia e da noite, falou: de graça, 0800.

Ótima idéia, bela sacada essa do SESC e mais ainda do Governo de Pernambuco que associou o evento Aldeia... ao projeto institucional do Estado em fazer com que os Pernambucanos conheçam o seu Estado. Até aí, tudo bem.

A noite estava ótima. Muito agradável, uma temperatura suportável. Não fazia tanto frio assim. Matingueiros tocando, gente chegando. De repente, saio da platéia e busco os bastidores para exercer o meu trabalho de jornalista. Às portas do camarim, encontro um segurança e o informo que sou Jornalista e queria apenas fotografar o palco de cima, pois como já falei anteriormente, o palco era muito alto e não proporcionava uma boa visão nem uma perspectiva legal para a fotografia. O segurança disse que não era com ele. Então, encosta um tal Caubi, ou Cauby? Aviso-lhe sobre a minha presença ali, ele diz que não posso entrar. Pergunto-lhe sobre a assessoria de imprensa do evento. Ele disse que estava conversando com ele. Peraê, até hoje não entendi. Ele era assessor ou porteiro? No final das contas, não tive acesso aos bastidores, pois não tenho crachá, sou um escrachado.

Voltei e fui curtir as apresentações. Todas ótimas. Petrúcio Amorim com a sua poesia sertaneja e xotes, baiões e pé-de-serra. Em seguida, o tão esperado show da noite. Lenine, produtor, arranjador, compositor, cantor pernambucano, fazia a sua estréia nos palcos ribeirinhos. Tudo conspirava bem. A música massa. Ritmos descompassados, letras envolventes, público cantando com o artista. O Nego D’água saiu do Angary, do outro lado do Rio, e veio ver o que acontecia. Aquele som o fez ancorar numa balsa atracada às margens do Velho Chico.

Lenine é ótimo, só pareceu ser míope, ou muito desinformado. Será que faltou à aula de Geografia e não sabe que nessa beira do rio São Francisco dois Estados do Nordeste são divididos por um tapete de água e, por isso, é gerado um bairrismo, um ciúme, que Caetano Veloso notou em poucas horas ao passar por aqui pela primeira vez? Será que os funcionários do Governo de Pernambuco, e os verdadeiros assessores de imprensa, não o muniram de informação e o alertaram sobre a presença de juazeirenses ali e que ele estava defronte à cidade baiana? Pode ser, ou pela miopia, ou pela desinformação.

Assim como eu, outros juazeirenses perceberam essa falta de cumprimento à vizinha cidade e acharam a atitude deselegante do artista. Atrevo-me a dizer que, metade da platéia, era de Juazeiro.

Outro dia, isso quase acontece no show do Cordel do Fogo Encantado, salvo pelo convidado da banda, o rapper BNEGÃO, ex-planet hemp, que prestigiou a platéia como uma só: petrolinenses e juazeirenses. Zeca Baleiro também fez um show em Petrolina para o tão propagandeado Vale e reverenciou as duas cidades de forma genuína e como convém a um artista. Pois é, para vender imagens e negócios é o Grande Vale, para minúsculas reverências e cumprimentos que criam uma atmosfera saudável e o apreço do público, não. Às vezes, dava a impressão de que Lenine foi orientado a não se referir, em hipótese alguma, à cidade baiana, pois quem pagou foi o Governo de lá, no caso, de Pernambuco.

A magia que envolve essas duas cidades é perfeita. Não teria graça viver por aqui e não brincar com isso. Tenho raízes pernambucanas fortes, mas nasci e moro em Juazeiro. Tenho ótimas relações com meus parentes e petrolinenses. Contudo, não posso ficar sufocado: Lenine cometeu um ato de má-educação, ah isso ele fez. Os produtores que trazem esses artistas devem orientar que fazer show aqui, no Grande Vale, é diferente de qualquer outro centro urbano, pois congrega o público das duas cidades.

Os meus argumentos podem até ser visto com cara de ciúmes, tudo bem. Entretanto, os meus ciúmes de Petrolina são outros. São mais das coisas que Petrolina tem e Juazeiro nunca teve como vias urbanas bem definidas, um comércio forte, equipamentos urbanos que servem à população, Aldeia do Velho Chico, Sesc, Sesi, Senac, Parque Municipal. Juazeiro tem pracinhas, grama, empresas que poluem o ambiente com um mau cheiro insuportável. Mas também tem muita gente boa, como as que foram reverenciar Lenine, e sequer foram cumprimentadas como baianos, juazeirenses, do outro lado da beira do rio.

E olha que ele ainda cantou diga aí, diga lá, você já foi a Bahia, nega? Não? Então vá. Quem não foi, foi Lenine. Então, retribua a visita que o Nego D’água lhe fez. Ele está lá, no Angary, mesmo lugar onde João Gilberto inventou um novo modo de tocar e cantar, ao notar que no gingado das lavadeiras havia musicalidade. E criou a Bossa Nova, do qual Lenine é herdeiro.