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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O DESMORONAMENTO DE UMA CULTURA LOCAL

As guerras acontecidas ao longo da história eram de conquista de território, as cidades eram invadidas, seus habitantes dizimados e a sua cultura era reprimida, desde o cerceamento à da liberdade de expressão à destruição de prédios, monumentos, patrimônio arquitetônico que contribuíam para a história cultural como símbolos de identidade da região invadida.

Desde a década de 40, com a construção da Ponte Presidente Dutra que culminou com a demolição do prédio da Estação Ferroviária Leste, Juazeiro, cidade que fica ao norte da Bahia, a 500 Km da capital Salvador, sofre com a demolição de seu patrimônio histórico. Os responsáveis por esse descaso são o poder público e o empresariado local, sendo isto uma característica destas guerras: a demolição da memória e da cultura..

Na década de 90, o anseio pela demolição culminou com a derrubada do cais da cidade, na beira do rio. Beira do rio, mesmo! Pois, orla é um nome novo na cidade. Juazeiro começa a ter as características das guerras medievais, sua cultura está sendo demolida. No lugar do cais, são colocados dois canos de ferros, paralelos e amarelos. Próximo a ponte, uma figura arquitetônica que se assemelha, e muito, com a letra inicial do nome do então prefeito, M – maiúsculo – e com luzes apontando para ele.

A partir disso, deu pra perceber que era possível destruir o patrimônio histórico da cidade e não aconteceria nada, não havia lei municipal que impedisse a demolição.

Vários prédios foram derrubados: Restaurante da Cidade, Requinte Móveis, os prédios das ruas da Apolo e Vinte e Oito de Setembro. Há seis anos, o prefeito em vigor criou uma lei municipal, através da sua Fundação Cultural, que visava proteger o patrimônio histórico e imaterial de juazeiro.

Parece que a Lei criada não adiantou, pois os prédios voltaram a ser derrubados, e a “Lei” vem sendo desrespeitada. A demolição mais recente foi à casa do ex-prefeito de Juazeiro Durval Barbosa. O prédio é antigo, com mais de cem anos de fundição. Pertencia a família Viana, representada pelo ex-farmacêutico Adolfo Viana, nome que denomina a avenida (antes travessa) que passa em frente a casa. Estava localizada atrás da catedral de Nossa Senhora das Grotas, a Vila Amália, em homenagem a mulher de Dr. Adolfo.

Vê aquele vazio na Avenida Adolfo Viana, faz meu coração saltar a boca. Que absurdo! Toda vez que passo por ali, vem o sentimento de perda. Como nas guerras, estão acabando com a nossa memória, nossa cultura. E devemos tomar cuidado e fazer esta lei funcionar, mas pelo que parece, o poder público não oferece muita importância a este tipo de cultura. Assim, ficamos órfãos de mais um prédio. Tomei conhecimento que uma das filhas de Durval Barbosa sentiu-se mal e teve que ir para o hospital. Meu diagnóstico: ela sofreu de desgosto ao ver a casa que brincou na infância-adolescência ir ao chão. O que dirá aos mais jovens da sua família: lá tinha um porão, o piso era de assoalho, havia uma estátua no jardim, as paredes eram de adobão. Conta-se pela cidade que havia mosaico de cerâmica portuguesa. As estátuas dos cachorrinhos que ficavam a porta também.


Entrei ali algumas vezes. Quando foi escola Padre José de Anchieta, brinquei muito, pois um amigo estudava lá. Era ótimo! Bons tempos. Em seguida começou a fase de aluguéis mais comerciais ainda. De locadora a loja de roupa. Era o prenúncio.

Enfim, a derrubada. O empresário local que realizou esta demolição não respeitou a cultura local, pensou apenas no lucro que irá obter com a venda ou o aluguel daquele que será, certamente, mais um ponto comercial da cidade. Todas as cidades do mundo têm uma mistura de modernidade e tradição cultural e, para quem não sabe, o patrimônio histórico faz parte da formação do ser humano. Aquele prédio não pertencia ao primeiro dono nem ao segundo nem ao grande empresário que a derrubou, e sim a história da cidade, da nossa Juazeiro. O valor monetário do imóvel é irrelevante em função do valor cultural.

Enquanto isso, o poder público nada tem a declarar, pois parece não saber lidar com isso. Parece despreparada. O Órgão gestor nada fez. O gabinete, pior ainda. Nossos vereadores não fizeram esta Lei existente valer. Parece que o prefeito não reconhece a Lei por ter sido homologada numa outra gestão. Os prédios da Estação Ferroviária de Piranga, segundo os antigos gestores da extinta fundação cultural, estavam prestes a receber ajuda financeira para revitalização. De lá pra cá, nada foi feito e o projeto esvaiu-se.

E assim vamos perdendo a nossa cultura, nossa arquitetura. Quer dizer, estão destruindo o patrimônio histórico da cidade, a possibilidade de conhecimento de outros tempos, de outras artes. E com a falta de preparo do poder público para ações de políticas culturais com o foco na formação do cidadão, a situação ficará pior ainda.

5 comentários:

sobre o peso da existência disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
sobre o peso da existência disse...

Parabéns pela iniciativa de escrever sobre este palpitante assunto, meu caro Raphael...
Desde que adentrei no projeto de pesquisa "O arquivo de Maria Franca Pires: memória e história cultural em pesquisa na região de Juazeiro-BA" tenho percebido com mais nitidez estas agressões ao patrimônio histórico-cultural de Juazeiro.

Algumas pessoas riam quando eu, ao passar em frente à antiga casa de Maria Pires (hoje loja de calçados, também localizada na Adolfo Viana), aproveitava para fazer um discurso inflamado sobre as atrocidades que são cometidas cotidianamente aos objetos de memória da cidade.

O mais intrigante é a ironia do destino: como a casa de uma pessoa que doou 40 anos de sua vida a recolher objetos que pudessem contar uma parte da história cultural da região foi engolida pelo tempo e transformada em ponto de comércio? E, infelizmente, este é só um exemplo.

Sábado uma colega do projeto de pesquisa me disse que tem uma entrevista de Maria Pires num antigo jornal de Juazeiro reprovando a transformação da casa de Édson Ribeiro na Santa Casa de Misericórdia. Imagina o que ele não diria ao saber que sua casa foi transformada em mais um estabelecimento comercial de Juazeiro.

Caríssimo Raphael, o tempo é traiçoeiro... E fico feliz em saber que não sou o único a ficar revoltado com estas mortes cotidianas de um passado saudoso que, por sinal, eu nem vivi.

Ou melhor, digamos que eu vivo sempre ao adentrar no mundo que circula o aquivo de Maria Pires, hoje objeto de estudo em nossa Universidade do Estado da Bahia. Digamos que eu vivo sempre ao percorrer a cidade de Juazeiro percebendo que ainda existem algumas coisas a contemplar, em sua arquitetura ou na consciência de seus intrépidos moradores...

Abração.

Unknown disse...

Eiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
Você tem que deixar todos seus comentários bons e ruins... não vale ficar editando apenas os que vc não gostar vc retruca e responde... só isso!!!
NÃO VALE APAGAR!!!

Anônimo disse...

iaê fal !!!pow tá decente teu blog !! muito bom mermo000o !
agora é só ganhar dinheiro ! omeu tá na ativa há 5 messes só de boa !!vlwsssss...lembre se de nunk clik sempre no mesmo horario alterne os horarios e naum dê muito clik em um curto intervalo de tempo se naum eles vão te banir!
fuiiiiii...

Sérgio Motta Lopes disse...

Atualíssimo! Parabéns pela visão crítica sobre o tema. Precisamos mais disto...
Grande abraço, Rapha.