quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
O Novo Jornalismo dos blogs
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Será o fim da crítica?
Por Raphael Leal
Num dos seus escritos, o poeta francês Charles Baudelaire teceu comentários sobre a análise do fazer artístico: “Para ser justa, ou melhor, para ter sua razão de ser, a crítica deve ser parcial, apaixonada, política; isto é: deve adotar um ponto de vista exclusivo, mas um ponto de vista exclusivo que abra ao máximo os horizontes.”
Ultimamente tenho ouvido falar coisas sobre a aceitação da crítica, o modo de se fazer e coisa e tal. A primeira reação é o esvaziamento da discussão, levando o debate para o campo do “gosto”. Outras reações se dirigem para o lado pessoal, ou profissional. Mas, desde já, informo que não abro mão da crítica. Ela tem a sua função social, mesmo que algumas sejam ríspidas, agressivas. Mas até as construtivas causam certo incômodo, pois todos sabemos que, quando somos alvo e temos o nosso trabalho com um dedo em riste, mesmo que com uma breve e despretensiosa análise, nos sentimos afrontados.
Assim sendo, se não fosse a crítica, principalmente no que se refere à arte, tudo seria arte. Para alguns, tudo é arte, mesmo não se exigindo conteúdo, conceito, nem fruição. O mundo seria demasiadamente desumano, pois muita gente iria “se achar”. Arte é um dom divino. Ela pode até ser utilizada como ferramenta pedagógica para que o ensino seja mais leve, mais agradável, atraente. Mas o talento é inato. Esses talentosos por natureza, quando se colocam como artistas, também estão sujeitos à análises, que muitas vezes chegam com um nível alto de argumentação e criticidade. Mas, diante das reações das últimas horas, tanto em situações nacionais como em acontecimentos regionais, fiquei a me perguntar: e se não tivesse a crítica, como seria?
Criticar (no sentido de opinar sobre o fazer artístico) se tornou um ato quase proibido, que só pode ser feito de forma velada para não gerar um mal-estar numa relação de amizade. E geralmente quando isso acontece ocorre o esvaziamento da discussão, colocando na roda da conversa pontos como “uns vem para criticar, outros pra fazer”, ou “gosto é isso ou aquilo...”, com conotação de desdém e, às vezes, escatológicas, ou ainda “isso é inveja”. Mas também há as reações de enfrentamento, quando a reação à crítica passa a ser ofensiva, questionando a qualidade da crítica, de quem fez. Eu, assim como sempre diz o poeta e professor Josemar Pinzoh, acho que “gosto” é uma coisa produzida. Ninguém nasce gostando de arrocha, mas as TVs da Bahia colocam todos os dias grupos dos mais pitorescos na telinha. A pressão é tão contundente que muitos indivíduos que assistem a isso passaram a gostar, pois se já se familiarizaram com aquele tipo de música. Com quem já tem um “gosto” diferente, a rotina diária passa a ser de combate com o que lhe é empurrado goela adentro, para que você não ache esse tipo de pressão musical um ato normal.
Diante da impossibilidade de realizar uma crítica, surge uma infinidade de “artistas”. Eles estão em todos os segmentos: no teatro, na teledramaturgia, nas artes plásticas, na música (lugar onde se há mais deles), na literatura, nas produções culturais, em tudo quanto é canto. Assim sendo, eu proponho o debate: de quem é aceitável a crítica? A apreciação do ato cultural/artístico pode ser feita por quem, somente por especialistas de determinada área? Certamente serei alvo de críticas sobre o que escrevo, mas de quem eu posso e devo aceitar a crítica aos meus rabiscos e minha análise? Como reagir?
Como sou demasiadamente humano, creio que a primeira reação seria saber quem falou. Mas como tenho procurado um novo tipo de comportamento a situações conflituosas, buscaria ouvir, ou ler o que foi falado ou escrito, para daí saber se valeria a pena fazer a crítica da crítica.
Provavelmente algo há de se aproveitar. Como disse o poeta Arnaldo Antunes, “com tantos sentimentos deve haver algum que sirva”.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Da facilidade de ser imprensa
Ainda não senti esse gostinho, pois pouco pratiquei a profissão de jornalista, mas fiz uma graduação para exercer essa função. Outros exercem essa prática pela inexistência de Cursos de Jornalismo, os quais são necessários para ser imprensa. Muitos desdenham da necessidade da formação, talvez pela preguiça de estudar.
Diante desse quadro que se apresenta, impressiona-me uma nova modalidade de imprensa: os sites, portais e blogs que surgem por aí e simplesmente se dão o título de “Imprensa". Imprensa, o escambau! Não é por aí, não. É preciso muito mais que uma máquina, um site, uma camisa e crachá para ser imprensa.
Eles estão em todos os lugares. Festas de clubes, largos e até em aniversário de bonecas. Tornou-se uma febre. Vivemos uma situação epidêmica. A qualquer momento, em qualquer lugar você pode ser abordado por um portal desses e vão lhe pedir para fotografá-lo. É até uma situação constrangedora negar um clique. Por princípios, ultimamente venho recusando.
Em Juazeiro-BA, nos dias de Carnaval (na verdade é um carnaval antecipado), realizado na última semana, houve uma verdadeira multiplicação dos crachás de imprensa. Parecia um bloco carnavalesco. Da festa de momo antecipada não tenho do que reclamar, pelo contrário aproveitei bastante.
Contudo, foi inevitável não perceber a revoada de garotos e garotas tirando proveito de uma comenda para desfilar na avenida por entre blocos, trios elétricos e camarotes. Acesso garantido ao camarote central. Estavam em maior evidência do que jornalistas. Uma equipe de um jornal local foi barrada, pois, segundo os organizadores dos camarotes, não estava adequadamente trajada para a prática jornalística.
Talvez isso seja pela era narcisística que vivemos. Tudo é dominado pelas imagens. Ser encontrado em um site, ser visto por todos, ter um nome numa coluna social passou a ser um ato de vaidade pós moderna.
Talvez, também, a distribuição dos crachás não tenha tido um controle, uma vigilância dos sindicatos dos profissionais de imprensa ou até mesmo o bom senso de quem os distribuiu.
Era necessária uma consulta aos órgãos de classe para saber quem, de fato e de direito, poderia exercer práticas fotojornalísticas, senão qualquer um pode ser repórter fotográfico ou até um repórter.
E isso foi apenas em minha cidade, Juazeiro da Bahia. Imaginem, meus caros leitores e colegas profissionais, como será no restante do Brasil. As pessoas pensam que lidar com informação é fácil, um diletantismo. Pobres de pensamento. Ser imprensa é compreender a sociedade, interpretar os fatos e propor uma reflexão ao público em geral.
Aqui, deixo o meu alerta, pois a qualquer momento alguma garota ou garoto bem afeiçoados, que se considera imprensa, podem chegar a você e solicitarem um clique.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Festival é assim mesmo...
Festival é assim mesmo! Esta é a frase mais comentada após os resultados de um festival de música. Mas os festivais não estão mais “assim, mesmo”. Primeiro porque as organizações não estão cumprindo com os seus deveres, pois faltam estrutura, divulgação e não se procura despertar o interesse da população em assistir aos artistas. Uma outra observação é sobre as músicas concorrentes, que deixaram de ser canções para o agrado do próprio autor.
Neste ano de 2008, os Festivais de Juazeiro e Petrolina demonstraram um pouco disso. Na margem direita do Rio, o Festival quase não acontecia, arrisco-me a dizer que foi o de menor público que já ocorreu . Só aconteceu por motivos legais, pois o Edésio Santos da Canção é Lei Municipal. Mesmo assim, não era preciso dar um tratamento tão horroroso como foi a edição deste ano. Na Orla 2, onde aconteceu o evento, não havia nem uma faixa avisando aos chegantes que ali acontecia um festival cultural de fomento à arte. As pessoas ficavam em pé, sem banheiros públicos para quem precisasse usá-los. Talvez tenha sido pelo final da gestão, que se aproxima.
Em Petrolina, no Festival Geraldo Azevedo, foi um pouco mais organizado, mesmo com uma decoração que quase não se via e não dizia nada, mas também não encontrei banheiro por lá e de platéia também não foi tão bem assim.
Agora tem uma outra parte: refere-se às músicas. Aí vão alguns questionamentos para reflexão: há um conceito do que é Festival de Música? A “melhor” canção é a que agrada ao público, que canta junto com o intérprete, que você lembra depois de muitos anos, como “Boato de Ribeirinho”, de Zé Wilson Freitas e Wilson Duarte, que não ganhou, mas ficou na memória do povo? Ou é a música “boa”, com belas harmonias, melodias singelas e eruditas que só agradam aos jurados e amigos?
Há alguns anos, os Festivais vêm ficando chatos. Chego a ter a impressão que músicos muito talentosos estão cedendo ao engodo dos jurados que “julgam” as músicas e escolhem a melhor. Mas acontece que a “melhor” nem sempre foi a mais querida. Quando disse acima que o público canta junto não é porque a música é pegajosa, de fácil entendimento, infantil como arrochas e pagodes.
Os festivais estão cada vez mais caretas e conservadores. Não há nada de novo, uma revelação, como foi Elizângela Moura. Os intérpretes cantam cada vez mais alto, buscando tons elevadíssimos e pouca preocupação com a sonoridade. Dessa interpretação, geralmente, as músicas vencedoras são no formato perfeito.
Apesar do pouco conhecimento técnico-musical, atrevo-me a refletir sobre isso. As canções começam num tempo, modulam, vão para um outro tempo, sobem, descem, rodopiam, voltam para o lugar (ás vezes vão para um terceiro tempo) e terminam. Isso se aplica a todos os estilos musicais. E os jurados entram nessa e gostam do que li se apresenta, exceto boa parte do público que assiste.
Um rock and roll jamais chegará a uma final de festival, um brincante jamais ganhará um. Tem que ser muito “boom”. É uma coisa muito louca, ou certa demais! Festival parece que virou negócio. Talvez o que proclamo seja duro demais, mas é o que parece. Do tipo, vou ali em Juazeiro ou Petrolina, ou onde acontecer Festival de Música, ganhar R$ 5 mil.
Eu sugiro uma reformulação dos quesitos de julgamento das músicas e do “corpo de jurados”. Comecem com uma boa escolha de jurados, de áreas e estéticas musicais e culturais diversificadas e priorizem uma boa organização, com uma estrutura adequada e atraente para um grande público. Também ouso sugerir que os músicos sejam livres para criar, busquem uma originalidade, e se desamarrem dos quesitos previstos para ganhar. E ousem desafinar o coro dos contentes, jogando o leite mal na cara dos caretas.
Senão, será sempre assim. A música “boa”, a perfeita, é quem vai ganhar e a frase final repetida exaustivamente será: “ festival é assim mesmo”...