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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Da facilidade de ser imprensa

O que é ser imprensa? Teoricamente seria uma instituição social habilitada para o exercício do Jornalismo praticado por graduados. Sendo assim, a imprensa é parte da sociedade, pois exerce o papel de vigilante do poder, interlocutor da população, um analista e intérprete de informações com o intuito de ser um “formador da opinião pública”. Parece que esta teoria e toda uma prática exercida para a existência da democracia vêm se esvaindo com a facilidade, hoje, de Ser Imprensa.

Ainda não senti esse gostinho, pois pouco pratiquei a profissão de jornalista, mas fiz uma graduação para exercer essa função. Outros exercem essa prática pela inexistência de Cursos de Jornalismo, os quais são necessários para ser imprensa. Muitos desdenham da necessidade da formação, talvez pela preguiça de estudar.

Diante desse quadro que se apresenta, impressiona-me uma nova modalidade de imprensa: os sites, portais e blogs que surgem por aí e simplesmente se dão o título de “Imprensa". Imprensa, o escambau! Não é por aí, não. É preciso muito mais que uma máquina, um site, uma camisa e crachá para ser imprensa.

Eles estão em todos os lugares. Festas de clubes, largos e até em aniversário de bonecas. Tornou-se uma febre. Vivemos uma situação epidêmica. A qualquer momento, em qualquer lugar você pode ser abordado por um portal desses e vão lhe pedir para fotografá-lo. É até uma situação constrangedora negar um clique. Por princípios, ultimamente venho recusando.

Em Juazeiro-BA, nos dias de Carnaval (na verdade é um carnaval antecipado), realizado na última semana, houve uma verdadeira multiplicação dos crachás de imprensa. Parecia um bloco carnavalesco. Da festa de momo antecipada não tenho do que reclamar, pelo contrário aproveitei bastante.

Contudo, foi inevitável não perceber a revoada de garotos e garotas tirando proveito de uma comenda para desfilar na avenida por entre blocos, trios elétricos e camarotes. Acesso garantido ao camarote central. Estavam em maior evidência do que jornalistas. Uma equipe de um jornal local foi barrada, pois, segundo os organizadores dos camarotes, não estava adequadamente trajada para a prática jornalística.

Talvez isso seja pela era narcisística que vivemos. Tudo é dominado pelas imagens. Ser encontrado em um site, ser visto por todos, ter um nome numa coluna social passou a ser um ato de vaidade pós moderna.

Talvez, também, a distribuição dos crachás não tenha tido um controle, uma vigilância dos sindicatos dos profissionais de imprensa ou até mesmo o bom senso de quem os distribuiu.

Era necessária uma consulta aos órgãos de classe para saber quem, de fato e de direito, poderia exercer práticas fotojornalísticas, senão qualquer um pode ser repórter fotográfico ou até um repórter.

E isso foi apenas em minha cidade, Juazeiro da Bahia. Imaginem, meus caros leitores e colegas profissionais, como será no restante do Brasil. As pessoas pensam que lidar com informação é fácil, um diletantismo. Pobres de pensamento. Ser imprensa é compreender a sociedade, interpretar os fatos e propor uma reflexão ao público em geral.

Aqui, deixo o meu alerta, pois a qualquer momento alguma garota ou garoto bem afeiçoados, que se considera imprensa, podem chegar a você e solicitarem um clique.

3 comentários:

Janko disse...

kkkkkkkkkkkkkkk...
Raphael, velho amigo e lutador pelo bom jornalismo e nossa regularização quanto categoria respeitada.

Antes de mesmo de escrever vou lhe sugerir algo: PORQUE VOCÊ NÃO SE CANDIDATA A SER PRESIDENTE DO SINDICATO DE JORNALISTA EM JUAZEIRO, PRA REGULARIZAR ISSO?

Nós que temos responsabilidade quanto imprensa e formadores de opinião.
Estamos mesmo sendo bombardeados por esses "SERES IMPRENSIVOS" (que se dizem imprensa) porque tiram fotos..., mas a nossa diferença é que além disso nós fazemos os seres humanos se questionarem seja como leitores ou como telespectadores... e aí?
Acho que neste sentido somos superiores, viu?!
Porque eles não fazem isso... ;)
Isso é uma boa reflexão... e eu assino embaixo!

Josemar Martins Pinzoh disse...

Meu caro Rapha, entendo a sua angústia. Mas, pensando bem, o que está em questão aqui, talvez, é definir as fronteiras do "fazer jornalístico". Animar festa de criança, animar blog, fazer locução de rodeio (ou de carnaval) é um "fazer jornalístico"? O problema de instituir um rigor para a prática jornalística, é o de estabelecer precisamente o "campo". Quais seriam as funções específicas de uma pessoa formada em jornalismo? É qualquer coisa: segurar reletor, filmar, fazer recepção, atender em balcão, fotografar (um fotógrafo precsa ter formatura?), fazer a locução (um locutor precisa de formação em jornalismo?)?
Estou pensando aqui que essa definição do "fazer jornalístico" não pode simplesmente fechar, cartelizar, justamente numa época em que as funções tradicionais foram descentradas, diversificadas. O jornalismo tem o direito de abarcar (e de fechar para si) toda a multiplicidade de novas funções de "comunicaçao-e-entretenimento"? Esse é o ponto. Até onde vai aquilo que se pode atribuir exclusivamente a um jornalista por formação? Até onde vai a fronteira das outras prátcas de comunicação que não podem ser só DO jornalismo (ou que não são do jornalismo, de qualquer forma)?
Mas o seu exercício de provocação do debate já muito salutar. Bola pra frente! Abraços! Pinzoh

Val disse...

Phal, show de bola o seu blog! Você é inteligente, tem feeling e sabe escrever. Isso, cá do meu humilde ponto de vista. Li muita coisa. Vou terminar de ler aos poucos, quero ler tudo... Abraços, amigo!

Sobre esse texto, em especial,onde assino pra ratificar? Acho que vou vender meu diploma pra algum deles, já que não tá me servindo...