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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Festival é assim mesmo...

Por Raphael Leal, Jornalista em Multimeios

Festival é assim mesmo! Esta é a frase mais comentada após os resultados de um festival de música. Mas os festivais não estão mais “assim, mesmo”. Primeiro porque as organizações não estão cumprindo com os seus deveres, pois faltam estrutura, divulgação e não se procura despertar o interesse da população em assistir aos artistas. Uma outra observação é sobre as músicas concorrentes, que deixaram de ser canções para o agrado do próprio autor.

Neste ano de 2008, os Festivais de Juazeiro e Petrolina demonstraram um pouco disso. Na margem direita do Rio, o Festival quase não acontecia, arrisco-me a dizer que foi o de menor público que já ocorreu . Só aconteceu por motivos legais, pois o Edésio Santos da Canção é Lei Municipal. Mesmo assim, não era preciso dar um tratamento tão horroroso como foi a edição deste ano. Na Orla 2, onde aconteceu o evento, não havia nem uma faixa avisando aos chegantes que ali acontecia um festival cultural de fomento à arte. As pessoas ficavam em pé, sem banheiros públicos para quem precisasse usá-los. Talvez tenha sido pelo final da gestão, que se aproxima.

Em Petrolina, no Festival Geraldo Azevedo, foi um pouco mais organizado, mesmo com uma decoração que quase não se via e não dizia nada, mas também não encontrei banheiro por lá e de platéia também não foi tão bem assim.

Agora tem uma outra parte: refere-se às músicas. Aí vão alguns questionamentos para reflexão: há um conceito do que é Festival de Música? A “melhor” canção é a que agrada ao público, que canta junto com o intérprete, que você lembra depois de muitos anos, como “Boato de Ribeirinho”, de Zé Wilson Freitas e Wilson Duarte, que não ganhou, mas ficou na memória do povo? Ou é a música “boa”, com belas harmonias, melodias singelas e eruditas que só agradam aos jurados e amigos?

Há alguns anos, os Festivais vêm ficando chatos. Chego a ter a impressão que músicos muito talentosos estão cedendo ao engodo dos jurados que “julgam” as músicas e escolhem a melhor. Mas acontece que a “melhor” nem sempre foi a mais querida. Quando disse acima que o público canta junto não é porque a música é pegajosa, de fácil entendimento, infantil como arrochas e pagodes.

Os festivais estão cada vez mais caretas e conservadores. Não há nada de novo, uma revelação, como foi Elizângela Moura. Os intérpretes cantam cada vez mais alto, buscando tons elevadíssimos e pouca preocupação com a sonoridade. Dessa interpretação, geralmente, as músicas vencedoras são no formato perfeito.

Apesar do pouco conhecimento técnico-musical, atrevo-me a refletir sobre isso. As canções começam num tempo, modulam, vão para um outro tempo, sobem, descem, rodopiam, voltam para o lugar (ás vezes vão para um terceiro tempo) e terminam. Isso se aplica a todos os estilos musicais. E os jurados entram nessa e gostam do que li se apresenta, exceto boa parte do público que assiste.

Um rock and roll jamais chegará a uma final de festival, um brincante jamais ganhará um. Tem que ser muito “boom”. É uma coisa muito louca, ou certa demais! Festival parece que virou negócio. Talvez o que proclamo seja duro demais, mas é o que parece. Do tipo, vou ali em Juazeiro ou Petrolina, ou onde acontecer Festival de Música, ganhar R$ 5 mil.

Eu sugiro uma reformulação dos quesitos de julgamento das músicas e do “corpo de jurados”. Comecem com uma boa escolha de jurados, de áreas e estéticas musicais e culturais diversificadas e priorizem uma boa organização, com uma estrutura adequada e atraente para um grande público. Também ouso sugerir que os músicos sejam livres para criar, busquem uma originalidade, e se desamarrem dos quesitos previstos para ganhar. E ousem desafinar o coro dos contentes, jogando o leite mal na cara dos caretas.

Senão, será sempre assim. A música “boa”, a perfeita, é quem vai ganhar e a frase final repetida exaustivamente será: “ festival é assim mesmo”...

2 comentários:

Josemar Martins Pinzoh disse...

Ficou muito bom Rapha!
Na medida certa, provocador e prudente, ao mesmo tempo!
Fecho com sua opinião!
Abraços!

Pinzoh

Mário Pires disse...

Rapha... show de bola o texto. Realmente o rock in roll nunca ganharia um festival.. mas ousei. abração!! valeu pelo texto. abraço!