Nos últimos meses, os debates públicos foram permeados por questões que iam da hipocrisia à ética. O país viveu um momento importante na história do Congresso Nacional, quando o Conselho de Ética apontou desvios de conduta e hipocrisia na vida parlamentar de Senadores. Contudo, os debates saltam os muros do Senado e rodeiam toda a sociedade brasileira, quiçá Mundial.
Outro dia ouvi de um colega “desculpe a sinceridade, mas você está com um discurso hipócrita”. Perguntei-lhe o motivo de tal afirmação. Respondeu-me dizendo que o meu discurso anterior confrontava com o que nós conversávamos naquele momento. Eu fiz a minha defesa, dizendo que a maturidade lhe dá outros meios de discursar sobre pontos de vistas, inclusive divergindo de pensamentos anteriores.
Fui saber, ao pé-da-letra, o que é Hipocrisia. A palavra deriva do latim hypocrisis e do grego hupokrisis ambos significando representar ou fingir. Outras pesquisas são feitas e os resultados continuam neste prisma. Continuando, descobri que o escritor francês François duc de la Rochefoucauldque, que viveu no século XVII, dissertou uma opinião semelhante sobre o tema em questão, afirmando que "a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude." Sendo assim, não consegui me inserir nas faculdades da Hipocrisia.
Relaciono a hipocrisia à ética. Parecem ser duas faculdades distintas, mas têm um relacionamento muito parecido. Se tu és ético, não é hipócrita e vice-versa.
Consigo perceber atos antiéticos e hipócritas a todo instante. Fico a me policiar para tais atos, até que consigo, mas sempre cometo um deslize. Não me julgo para saber se o vacilo é grave ou não, pois coloco estas instituições da moral num mesmo patamar do pecado. A gula seria tão comprometedor quanto matar. Destarte, furar uma fila ou pedir a um diretor de colégio público uma “vaguinha” para o filho é tão agressivo e imoral quanto solicitar ao seu amigo lobista que pague a pensão de seu filho bastardo.
Rotineiramente, presencio cenas parecidas. Outro dia estava na fila do Restaurante Popular em Petrolina quando, subitamente, me aparecem dois estudantes convidados por uma outra a ficarem ao seu lado e adiantarem a saciedade de sua fome, pois os convidados estavam ao final da fila. Estudantes, jovens como eu, mas que não parecem estar nem um pouco preocupados com ética ou hipocrisia. Que moral teriam para falar do Senador Renan Calheiros? Parece ser o “olho por olho, dente por dente”, pois se o Senador infringe, eu também posso. Na hora em que foi lavar as mãos, antes de comer, o rapaz apagava a “cola” que teria utilizado para realizar a prova, mas pelos seus comentários acabou não funcionando.
O policiamento dos cidadãos em relação à postura ética deve ser constante senão cairão em tentação e cederão aos mais variados instintos e costumes imorais enraizados na cultura brasileira, do jeitinho, leve, mas que ofende, e passa por cima de todos.
Outro fato curioso: mês passado, ouvi muitos comentários sobre o Filme “Tropa de Elite”. Pensando que o filme já tinha tido lançamento, procurava nas locadoras de vídeo e descobria que não, o que as pessoas comentavam eram de cópias piratas. Vejam só, o filme que - pelo que li - faz uma exaltação aos excessos da polícia e tráz um argumento simplista como se a culpa da existência do tráfico fosse apenas do usuário, como se no mundo não existisse isso( liga pra Suíça e pergunta se fumam maconha por lá). Pois, o referido filme foi objeto de análise sobre questões éticas e hipócritas, porque policiais assistiram ao filme através de uma cópia pirata e eu não assisti, inclusive recusei convites. Li na revista que o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro achava que a ação policial tinha que ser daquele jeito, em uma alusão aos regimes ditatoriais ou uma espécie de volta à barbárie.
É por essas e outras práticas que a humanidade caminha em plena era pós-moderna com lembranças atrozes de eras passadas e arrotam por aí que vivemos numa civilidade. Aonde? Em que lugar? Alguém poderia me situar?
Caso criássemos a Ética Geral Aplicada ao Cotidiano e que a Deontologia tivesse um poder coercitivo, talvez nem viveríamos, ou a sociedade continuaria a ser hipócrita, demagoga e daríamos um “jeitinho” de construirmos um projeto de lei que abolisse esta tal de ética.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
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