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terça-feira, 9 de outubro de 2007

Movimentos sociais populares e uma classe social descontente

“Quando as cercas caírem no chãoQuando às mesas se encherem de pãoEu vou cantar”

Nos versos de Zé Vicente se percebe um clamor pela paz, que os ânimos da luta pela terra sejam acalmados e a situação seja resolvida. A cerca do latifúndio não quer sair, mesa cheia de pão está difícil na do pobre - que não é sem terra, nem sem-terra, imagine na de quem é? Você, meu caro leitor, já passou um dia ou uma manhã que seja num acampamento? Provavelmente, conhece o movimento pelos discursos presentes na televisão, jornal, rádio.

A Reforma Agrária é um sonho antigo para os camponeses. E este sonho fica distante a cada dia que passa. Este distanciamento é provocado pela estratégia de manifestação confusa que os líderes do MST propõem para o restante do movimento que são açoitados pelo “espírito de rebanho” e vão... Lá se deparam com outras situações e são alvo da “Grande Imprensa” que aproveita deste deslize para desqualificar os movimentos sociais num todo, fazendo toda uma campanha de desmobilização e construindo uma opinião pública contrária aos movimentos sociais populares.

Legítimo agora é estar “Cansado”. Antes, há uns tempos atrás, pouco tempo por sinal, estavam todos dispostos. Movimento bom agora é o que a elite nacional faz com camisas bem transadas, que servem para ir a uma festa (vejam só!). Artistas “populares” que nunca cantaram um protestozinho sequer, , vivem, agora, cansados. Apresentadores e apresentadoras de TV também e ainda choram. Que comovente!

Antes ninguém cansava do MST, nem de Governos passados, seja federal ou estadual. Batia palmas. Chorava os mortos de Eldorado dos Carajás. Mas os líderes do movimento contribuem, às vezes, para um defasamento da imagem das lutas sociais, e a grande mídia se apropria disso e a opinião púbica aceita. Daí vem os comentários dos cidadãos, que parecem ser tão passivos à mensagem que chego a refletir sobre o poder de análise da mediação das mensagens: “são tudo(sic) uns safados”, “bucado(sic) de bandidos”, “esses sem-terra são tudo barão, cheios do dinhieiro”, “fulano de tal é sem-terra”.Entretanto, alguém que fala isso, por acaso é o mesmo que vive de acampamento em acampamento, tendo que sobreviver – digo sobreviver -, com migalhas de comida e roupas esfarrapadas? Também gostaria de entender melhor este conceito de safadeza. Em que sentido? Será que também não é pilantra aquele que passou a perna no colega para ficar com um cargo público ou privado? E o grampo no painel do senado? De dólar na cueca, nem vou falar. Ninguém cansou da emenda que dava direito à reeleição? E do saneamento básico de uma cidade da qual já era para ter sido realizado há mais de 15 anos,uma CPI apurou, o procurador da república deu um parecer, apontou os supostos culpados e a situação permanece impune. Ninguém chama isso de safadeza?

Acho que está na hora do “Movimento Abusei” ou o “ Enchi o Saco”, que tal? Não faço defesa de Governo algum, apenas peço uma reflexão, principalmente dos letrados, que seja mais apurada. O que se vê não são argumentos, apenas palavrões que incitam os cidadãos a se rebelarem contra o que eles não sabem nem o quê. Interessante é que estes movimentos não atingem a grande população brasileira, que parece não estar cansada e sim aliviada de tantos outros tempos difíceis, passados no chicote e na mão dura, enriquecendo quem agora faz “movimento social”.
Há um discurso que diz não existir mais direita e esquerda, mas quem mais propaga isso é o que ainda hoje se configura como direita. E esse discurso é aceito de um modo tão passivo que percebo que esta estratégia de desfacelamento e uma não propagação de um outro Lula é bem articulada, até a luta de classes já não é mais legitimada nem por quem é de esquerda.

O MST sempre foi alvo desse grupo social que detém poderes públicos e simbólicos e são capazes das mais diversas práticas inescrupulosas para conseguir os seus objetivos e anular as lutas sociais. E ainda mais agora com as estratégias de manifestação do MST que chegam a desrespeitar o seu semelhante, o trabalhador rural, que também é explorado pelos grandes grupos. É o que ocorreu com os funcionários da empresa rural Mariad, localizada em Juazeiro, Bahia, que teve o seu dono preso por envolvimento com tráfico internacional de drogas e teve a propriedade invadida pelos sem-terra ameaçando a permanência dos trabalhadores no seu local de trabalho e a negociação do pagamento dos salários, além da própria garantia do emprego futuro.

Diante disso, o MST teria perdido o foco da luta pela igualdade social ficando a mercê de comentários descabidos da elite e da própria população brasileira. Antes, no Brasil e na região semi-árida, de onde profiro estas palavras, o problema era a cerca e não a sêca. Agora eu nem sei mais o que é.

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